sábado, 26 de julho de 2014

O Relatório Global sobre Homicídios 2013, publicado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) demonstra que, no ano de 2012, foram registrados 50.108 homicídios no Brasil; o que equivale a dizer que, em nosso país, são cometidos cerca de 140 assassinatos por dia. Em todo o mundo, nesse ano, foram cometidos 437 mil assassinatos; isto é, os números brasileiros correspondem a mais de 10% desse total(!).

“Cerca de 600 pessoas já morreram no conflito entre Israel e o Hamas
Diante do alto número de mortes, aumentou o apelo por um cessar-fogo.
Militantes do grupo Hamas usam túneis para atacar os soldados de Israel”.

Hoje, 26/07/2014, no Boletim de Notícias da Globo News, a locutora informou que nos 21 dias de conflito morreram cerca de 900 palestinos. Seria oportuno se a locutora fizesse uma observação, informando que, nesse mesmo período, foram assassinados mais de 2800 brasileiros (!).

O conflito entre Israel e o Hamas recebe tratamento “vip” na imprensa brasileira e internacional. Se, naquele enfrentamento, morrem 600 pessoas, esse fato toma proporções gigantescas, despertando a indignação de diversas nações, entre as quais o Brasil. Esse número de mortos – 600 – é menor do que a soma de assassinatos cometidos em apenas cinco dias no Brasil.

O Preconceito - seja ele de que origem for (racial, religioso, de gênero, etc.) – é, e sempre deverá ser combatido. Entre tantos preconceitos que conhecemos, temo que mais um esteja se somando àquela longa lista. O “preconceito jornalístico”, penso, já se oferece como realidade, pois, a morte de 600 pessoas (entre israelenses e palestinos) parece ter maior importância jornalística – e ganha maior destaque em todas a mídias - do que a morte de 140 brasileiros diariamente (!!).

Com a intenção de acordar as nossas autoridades constituídas, e também os políticos - que querem se constituir como autoridades -, eu proponho que esse triste panorama brasileiro fosse lembrado na imprensa internacional, tomando, desta forma, posição contrária ao preconceito jornalístico.

No âmbito interno, e com o mesmo objetivo, gostaria que os âncoras de todos os noticiários nacionais – no rádio e na televisão -, ao darem o “bom-dia”, ”boa-tarde” ou “boa-noite” às suas audiências, fizessem o seguinte lembrete:

Como acontece todos os dias em nosso país, amanhã serão assassinadas cerca de 140 pessoas no território brasileiro. Todos queremos saber quais serão as ações dos governantes diante desse “desproporcional número de mortes”.

Em vez de olhar para o umbigo de Israel (ou da Faixa de Gaza), nossas autoridades – e a imprensa nacional - deveriam olhar, com mais atenção, para o umbigo do Brasil.