quarta-feira, 11 de maio de 2016

“Quero viver em outro Brasil!”


     Tenho medo de que, com Temer, eu acabe vendo um pouco mais da mesma coisa.
     Nosso presidente – por favor, não falem “presidento” (!) –, por melhores que sejam as intenções dele, será esmagado pela “tradição operacional” dos nossos deputados e senadores. De acordo com as informações colhidas na operação Lava-jato, na lista do Janot, na “superplanilha” da Odebrecht, na delação premiada do Delcídio do Amaral e entre os clientes da Mossack Fonseca, muitos dos nossos representantes no Congresso valorizam mais os seus interesses pessoais e de seus partidos do que os interesses do Brasil.
      Os partidos políticos, para os quais Temer será obrigado a delegar parte do seu poder para ocuparem os ministérios, não estão preocupados com uma administração honesta e eficiente de suas pastas, e sim com o volume de dinheiro que poderá ser manipulado em falcatruas e negociatas, urdidas nos labirintos sombrios da burocracia federal.  Os partidos continuarão sugerindo, para ocupar os ministérios, personalidades “manobráveis” (como Wilson Maranhão), aéticas e dissimuladas dos seus quadros. A competência para o cargo não é necessária. A prioridade é saber se o partido ficou satisfeito com a nomeação e quantos votos da bancada estarão garantidos na votação dos projetos do governo (!).  Um ministério de notáveis? Não. O ministério de Temer será o ministério escalado pelos “coronéis” da política brasileira, presidentes (ou testas de ferro) dos atuais 35 partidos existentes. Aqui, novamente, o povo e os interesses nacionais serão “apenas um detalhe.”
      Ao praticar o “fisiologismo perverso do toma lá, dá cá”, Temer acabará perdendo a chance de melhorar a administração federal, fazendo mais da mesma coisa.
      A partir de hoje, as raposas do PT, do PC do B e outros passarão para a oposição. A principal missão desses partidos será a de obstruir a governança de Temer, da mesma forma que seus militantes obstruem o trânsito nas avenidas e viadutos das grandes cidades, queimando pneus; invadem propriedades rurais produtivas e destroem laboratórios de pesquisas agrícolas.  Eles acreditam que prejudicando a administração Temer – preenchendo o congresso com a fumaça preta das suas ideologias ultrapassadas – conquistarão a simpatia dos eleitores para retornarem ao poder em 2018. Como vimos, no “mensalão” e no “petrolão”, eles não querem servir ao Brasil, mas se servir do Brasil.
     Penso que, sem uma profunda reforma político-eleitoral, continuaremos tendo apenas a troca das moscas, mas a “m” será a mesma. É preciso banir as moscas e a “m” da política brasileira! É preciso banir os corruptos da administração pública! Muito acertada foi a frase de um interlocutor do ministro Celso de Mello quando disse: “Eu não quero viver em outro país. Eu quero viver em outro Brasil!”.

      Será difícil, mas não será impossível. 

terça-feira, 26 de abril de 2016

Zika: preocupação real para a saúde reprodutiva.

Zika: preocupação real para a saúde reprodutiva.

Existem evidências científicas de que o Zica vírus pode causar microcefalia(1), quando a gestante adquire a infecção no primeiro ou no segundo trimestres da gravidez. Outras evidências apontam que o Zika vírus pode ser transmitido sexualmente(2) (leia também 3).

Como se não bastasse à mulher - gestante ou não - precisar se proteger da picada do mosquito Aëdes aegypt, nesses tempos de epidemia de dengue, chikungunya e zika, surge uma nova ameaça no horizonte que não diz respeito apenas ao padecimento clínico por adquirir uma dessas viroses (febre, dores oculares, articulares e musculares, manchas vermelhas na pele, fraqueza, prostração, etc.), mas por comprometer seriamente a saúde reprodutiva.

O fato de que, nos homens infectados pelo Zika vírus, a carga viral no sêmen poder ser 100.000 vezes maior do que no sangue transforma essa infecção em mais uma doença sexualmente transmissível, com repercussões na reprodução natural e na reprodução medicamente assistida. Se considerarmos que não sabemos ainda por quantos meses, após a infecção, um homem portador – mas assintomático - poderá transmitir o vírus para a(s) sua(s) parceira(s), os cuidados preventivos deverão ser redobrados – inclusive nos bancos de sêmen – para não expor a mulher a uma gestação cujo feto estaria vulnerável a malformações cerebrais como a microcefalia.

A partir de 1969, a vacina contra o vírus da rubéola passou a proteger as gestantes dos sérios danos embrionários que essa virose pode causar. Acreditamos que, em breve, a vacina contra o Zika vírus também estará disponível. Até lá, porém, o combate aos focos do mosquito, as telas de proteção nas janelas e portas, o uso de repelentes e o adiamento de uma futura gestação em regiões endêmicas são medidas a serem consideradas.


sexta-feira, 25 de março de 2016

Brasil Limpo

       O juiz federal da 4.ª Região (Paraná), Sérgio Moro, a Procuradoria da República no Paraná (MPF) e a Polícia Federal estão dando um exemplo magnífico de quais medidas devem ser adotadas para passar o Brasil a limpo.
       A partir de doleiros, eles desvendaram esquema bilionário que assaltou os cofres da Petrobrás. Portanto, é fundamental que todos os doleiros que operam no Brasil sejam investigados (não é difícil encontrá-los; é só seguir o dinheiro). Aqueles doleiros que forem enquadrados no crime de evasão de divisas devem ser presos, com direito à delação premiada.
       Pela delação dos doleiros, chegaremos àqueles que sangram o Brasil.
       O juiz Sérgio Moro pertence à 4.ª Região, que abrange os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Para passar o Brasil a limpo é preciso que os juízes das outras quatro regiões também tenham a mesma determinação que o seu colega do Paraná. A 1.ª Região abrange os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Minas Gerais, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Piauí e o Distrito Federal. A 2.ª Região: abrange os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. A 3.ª Região abrange os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. A 5.ª Região abrange os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba.
       A Procuradoria da República, em cada estado, também deve ter a mesma firmeza demonstrada por seus assemelhados lotados no Paraná. O procurador-geral da República deve ser nomeado por seus próprios méritos e, portanto, não acolher sentimentos de “gratidão” por quem o nomeou. Principalmente se este último espera daquele um tratamento diferenciado que o proteja dos ditames da lei.
       A Polícia Federal – politica e ideologicamente autônoma – deve seguir com o seu trabalho, digno dos maiores elogios.
       A mesma coisa pode ser feita no âmbito estadual. Investigar a fundo possíveis maracutáias envolvendo o dinheiro público (estadual). Criar uma força-tarefa da polícia e do ministério público estadual – tipo “os intocáveis” – para este fim. A participação dos juízes estaduais é fundamental para alcançarmos esse objetivo. Parte do material necessário para iniciar as investigações poderá ser encontrado nas gavetas dos Tribunais de Contas.
       Ações semelhantes seriam deflagradas, também, no âmbito municipal pelos órgãos correspondentes.
       Essas ações, quando postas em prática, poderão indicar um novo caminho a ser seguido pelos cidadãos brasileiros e seus representantes nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas estaduais, na Câmara Federal, no Senado Federal e na Presidência da República.
       Às vezes, penso que estou sendo muito ingênuo ao propor tais medidas no “país do jeitinho”. Mas, eu preciso acreditar que é possível diminuir – bastante – a corrupção em nosso país.
       Vamos passar o Brasil a limpo!

       

segunda-feira, 8 de junho de 2015

“Viagra feminino”: terapia arriscada, apelido desastroso.


No último dia quatro de junho de 2015, os conselheiros do Food and Drug Administration (FDA) – órgão governamental dos Estados Unidos da América, responsável pelo controle dos alimentos e medicamentos -, recomendaram – com ressalvas, por 18 votos a favor e 6 contra – a aprovação da substância flibanserina, supostamente indicada para o tratamento do distúrbio do desejo sexual hipoativo (sigla em inglês, SHDD), em mulheres na pré-menopausa. O distúrbio do desejo sexual hipoativo é definido como “deficiência ou ausência – persistente ou recorrente - de fantasias sexuais e falta de desejo para as relações sexuais, marcada pela angústia e dificuldades nos relacionamento interpessoal”.

Desastrosamente apelidada pela mídia americana de “viagra feminino”, a flibanserina em nada se assemelha aos medicamentos utilizados pelos homens com disfunção erétil. Os efeitos dos “viagra-similes” se iniciam quarenta e cinco minutos após a tomada. A flibanserina precisa ser ingerida diariamente para que seu efeito seja notado após quatro semanas (!). A ação dessa droga, nos neurotransmissores cerebrais, é cumulativa e não instantânea, sendo máxima após oito semanas de uso contínuo.

Os conselheiros do FDA manifestaram preocupações quanto à segurança da droga. Todos aqueles que votaram a favor da recomendação alertaram o fabricante sobre a necessidade de  desenvolver um programa para reduzir os riscos da droga, que incluem queda súbita da pressão arterial (com desmaios), náuseas, insônia, tontura, cansaço, boca seca e ansiedade. A interação com o álcool e outros medicamentos (pílulas anticoncepcionais) precisam ser melhor estudadas.

A eficácia dessa substância também é questionável. O aumento no número de relações sexuais satisfatórias mensais é pequeno, quando comparado ao uso do placebo (4.4 contra 3.7 respectivamente). Acredita-se que apenas uma entre dez mulheres na pré-menopausa (portanto, com idades que variam entre quarenta e cinquenta anos) será beneficiada por esse medicamento.

Algumas entidades americanas, como a National Women’s Health Network, são absolutamente contra a aprovação (prematura) da flibanserina para remediar o desejo sexual hipoativo em mulheres na pré-menopausa.

Uma nova reunião dos conselheiros do FDA está marcada para o próximo dia 18 de agosto, na qual será decidida a aprovação – ou não – da comercialização dessa substância nos Estados Unidos.

A responsabilidade do Drug Safety and Risk Management (DSaRM) Advisory Committee do FDA, naquela data, será muito grande.

A aprovação da flibansterida - se acontecer - terá enormes repercussões na mídia global, forçando os médicos – ditos modernos, antenados e atualizados – a prescrever uma droga sobre a qual sabem muito pouco. Uma legião de mulheres, com menos de trinta e cinco anos de idade e iludidas pelo apelido de “viagra feminino”, pedirão uma receita aos seus ginecologistas, acreditando que a falta de desejo sexual (tesão) que sentem, poderá ser curada instantaneamente com um simples comprimido.

Mulheres na pré-menopausa serão manipuladas pela indústria farmacêutica (via multimídia – jornais, revistas, TV, tablets, PCs, celulares, etc.) a consumir “Addyi” (nome proposto pelo laboratório “Sprout Pharmaceuticals” para venda da flibansterida nos Estados Unidos). Elas só despertarão para a realidade depois de muitos meses comprando (a preços altos) caixas e mais caixas de Addyi, sem obterem o resultado esperado; esquecendo-se de que os sentimentos e a atração sexual, entre homens e mulheres, não podem ser fabricados artificialmente.


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Resolução Normativa Nº 368 (MS/ANS): iniciativa inútil como incentivo ao parto normal.

Resolução Normativa Nº 368 (MS/ANS): iniciativa inútil como incentivo ao parto normal.

A partir do dia 6 de julho deste ano, as gestantes - que possuem planos de saúde – terão o direito de acesso às informações sobre “os percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais, por operadora, por estabelecimento de saúde e por médico”.

Não creio que essa medida irá diminuir os índices absurdos de cesarianas em nosso país. Eu explico:

O fato de a gestante ficar sabendo que mais de 90% dos partos do convênio X, ou realizados no hospital Y, ou praticados pelo medico Z foram cesarianas não fará com que ela sinta-se incentivada a ter o seu filho por parto normal. O tiro pode, até, sair pela culatra se ela acreditar no seguinte sofisma: “se a maioria das mulheres do convênio tem filhos por cesariana, então, essa deve ser a melhor maneira de se ter um bebê (!)”.

Existem inúmeros fatores (culturais, socioeconômicos, etc.), envolvendo gestantes e médicos, que fazem com que, no Brasil, 88% dos bebês nasçam por cesariana nos hospitais privados.

Concordo com a epidemiologista Maria do Carmo Leal, coordenadora da pesquisa “Nascer no Brasil”, divulgada pela Fiocruz e pelo Ministério da Saúde, quando ela diz: “Não há justificativas clínicas para um percentual tão elevado dessas cirurgias”. E não há mesmo!! As justificativas não são clínicas, mas de outra ordem.

As justificativas, por parte das gestantes, incluem: 1) o medo da dor do parto; 2) o medo de que a via transpélvica possa trazer sequelas para o seu aparelho geniturinário, como flacidez das paredes vaginais (tornando-as sexualmente menos atraentes), “queda de bexiga” (cistocele), incontinência urinária, prolapso do útero, etc.; 3) o medo da possibilidade do uso do fórcipe acarretar traumatismo craniano, e/ou facial e/ou cerebral no recém-nato; 4) a espera angustiante – de várias horas, com dor – até o nascimento; 5) a possibilidade de planejar o dia e a hora do parto, sem ficar à mercê das incertezas do acaso (madrugadas, feriados prolongados), etc.

As justificativas, por parte dos obstetras, incluem: 1) a convicção pessoal de que a cesariana é a via mais segura. Neste caso, o médico acredita que os parâmetros (maternos e fetais) envolvidos no nascimento estão sob seu controle, e não sujeitos às imperfeições da Natureza; 2) a aceitação, alicerçada no princípio da autonomia, de que a gestante tem o direito de escolher o tipo de parto (nas palavras do Professor Marcelo Zugaib - Titular do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia / Chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: “eu sou um defensor da cesárea a pedido há 10 anos”); 3) a possibilidade de planejar o dia e a hora do parto, sem ficar à mercê das incertezas do acaso (ter que desmarcar as clientes no consultório, expor-se aos possíveis assaltos nas madrugadas das grandes cidades, ser chamado durante os feriados prolongados); 4) deixar de dispender várias horas no acompanhamento de um trabalho de parto, quando é possível ultimar o nascimento por cesariana, permanecendo apenas duas horas na maternidade; 5) o medo de responder a ações judiciais (civis e penais), alem de processos ético-profissionais por erro médico, no caso de óbito fetal, de sequelas por anóxia perinatal ou devido a aplicação do fórcipe. A frase “se ele tivesse feito uma cesariana, teria salvado a criança” geralmente prenuncia a abertura um processo judicial contra o médico.

A Resolução Normativa Nº 368, com o objetivo de incentivar(?) o parto normal, irá obrigar o médico a preencher o partograma, no qual serão registrados, a intervalos regulares, os diversos parâmetros clínicos da evolução do parto (a dilatação do colo, a posição e a altura da cabeça fetal, a frequência – e regularidade - dos batimentos cardíacos do feto, a frequência e a intensidade das contrações uterinas, a ruptura, ou não, da “bolsa das águas”, etc.). O partograma será o documento mais importante, a prova mais contundente, para que as operadoras de planos de saúde possam fazer a distinção entre a cesariana indicada por critérios clínicos e/ou obstétricos daquela realizada sem qualquer indicação médica. O partograma fará parte da documentação a ser enviada à operadora do convênio para que esta o analise e, então, se o aprovar, faça o pagamento ao médico e à maternidade. Temo que a cesariana, a pedido da gestante, apesar de alicerçada no princípio da autonomia, não seja considerada pelos convênios como uma indicação justificável. Temo, também, que muitos partogramas passem a registrar indicações muito precoces de cesarianas – com menos de uma hora após a internação da paciente. Acredito que essas cirurgias continuarão a ser agendadas previamente – pelo centro obstétrico, pelo médico (e sua equipe) e pela gestante (e sua família). É lamentável, mas essa é a nossa cultura atual (!). Os partogramas, possivelmente, serão preenchidos depois da cesariana, falseando as estatísticas de sofrimento fetal, discinesia uterina, desproporção céfalo-pélvica, parada de progressão, distócia cervical (não-dilatação), prolapso do cordão, circulares de cordão, apresentação anômala, doença materna, etc., etc, etc. Muitos obstetras, principalmente os mais jovens, têm por dogma a seguinte falácia: “uma vez cesárea, sempre cesárea”. Para eles, a cesárea anterior torna inútil o preenchimento do partograma na gestação atual. Resta saber se a operadora também irá rezar pela mesma cartilha...

Resumindo: a Resolução Normativa Nº 368 do Ministério da Saúde / Agência Nacional de Saúde Suplementar, publicada no Diário Oficial da União, em 07/01/2015 (nº 4, Seção 1, pág. 38), que entrará em vigor no dia 6 de julho de 2015, a meu ver, não traz consigo nenhum incentivo ao parto normal. Infelizmente, o vergonhoso índice de cesarianas no Brasil – em gestantes de convênio, ou particulares - continuará alto.

Diminuir os percentuais de partos operatórios em nosso país é quase uma utopia, pois, para que esse objetivo seja alcançado, é necessário diminuir a influência de todos aqueles fatores que, hoje, são justificativas - de gestantes e de obstetras - para a manutenção desse vergonhoso status quo.

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Leitura complementar:

A autonomia da gestante e o direito pela cesariana a pedido. 
Dr. José Ferrari.
Revista Bioética 2009 17 (3): 473 – 495.

A questão das cesarianas. 
Dr. Sérgio Martins-CostaI e Dr. José Geraldo Lopes Ramos
Rev. Bras. Ginecol. Obstet. vol.27 no.10 Rio de Janeiro Oct. 2005

Primary Cesarean Delivery Rates, 
Results from the Revised Birth Certificate, 2006–2012 
Michelle J.K. Osterman, M.H.S., and Joyce A. Martin, M.P.H
Centers for Disease Control and Prevention
National Vital Statistics Reports, January 23, 2014 - USA.

sábado, 26 de julho de 2014

O Relatório Global sobre Homicídios 2013, publicado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) demonstra que, no ano de 2012, foram registrados 50.108 homicídios no Brasil; o que equivale a dizer que, em nosso país, são cometidos cerca de 140 assassinatos por dia. Em todo o mundo, nesse ano, foram cometidos 437 mil assassinatos; isto é, os números brasileiros correspondem a mais de 10% desse total(!).

“Cerca de 600 pessoas já morreram no conflito entre Israel e o Hamas
Diante do alto número de mortes, aumentou o apelo por um cessar-fogo.
Militantes do grupo Hamas usam túneis para atacar os soldados de Israel”.

Hoje, 26/07/2014, no Boletim de Notícias da Globo News, a locutora informou que nos 21 dias de conflito morreram cerca de 900 palestinos. Seria oportuno se a locutora fizesse uma observação, informando que, nesse mesmo período, foram assassinados mais de 2800 brasileiros (!).

O conflito entre Israel e o Hamas recebe tratamento “vip” na imprensa brasileira e internacional. Se, naquele enfrentamento, morrem 600 pessoas, esse fato toma proporções gigantescas, despertando a indignação de diversas nações, entre as quais o Brasil. Esse número de mortos – 600 – é menor do que a soma de assassinatos cometidos em apenas cinco dias no Brasil.

O Preconceito - seja ele de que origem for (racial, religioso, de gênero, etc.) – é, e sempre deverá ser combatido. Entre tantos preconceitos que conhecemos, temo que mais um esteja se somando àquela longa lista. O “preconceito jornalístico”, penso, já se oferece como realidade, pois, a morte de 600 pessoas (entre israelenses e palestinos) parece ter maior importância jornalística – e ganha maior destaque em todas a mídias - do que a morte de 140 brasileiros diariamente (!!).

Com a intenção de acordar as nossas autoridades constituídas, e também os políticos - que querem se constituir como autoridades -, eu proponho que esse triste panorama brasileiro fosse lembrado na imprensa internacional, tomando, desta forma, posição contrária ao preconceito jornalístico.

No âmbito interno, e com o mesmo objetivo, gostaria que os âncoras de todos os noticiários nacionais – no rádio e na televisão -, ao darem o “bom-dia”, ”boa-tarde” ou “boa-noite” às suas audiências, fizessem o seguinte lembrete:

Como acontece todos os dias em nosso país, amanhã serão assassinadas cerca de 140 pessoas no território brasileiro. Todos queremos saber quais serão as ações dos governantes diante desse “desproporcional número de mortes”.

Em vez de olhar para o umbigo de Israel (ou da Faixa de Gaza), nossas autoridades – e a imprensa nacional - deveriam olhar, com mais atenção, para o umbigo do Brasil.