segunda-feira, 8 de junho de 2015

“Viagra feminino”: terapia arriscada, apelido desastroso.


No último dia quatro de junho de 2015, os conselheiros do Food and Drug Administration (FDA) – órgão governamental dos Estados Unidos da América, responsável pelo controle dos alimentos e medicamentos -, recomendaram – com ressalvas, por 18 votos a favor e 6 contra – a aprovação da substância flibanserina, supostamente indicada para o tratamento do distúrbio do desejo sexual hipoativo (sigla em inglês, SHDD), em mulheres na pré-menopausa. O distúrbio do desejo sexual hipoativo é definido como “deficiência ou ausência – persistente ou recorrente - de fantasias sexuais e falta de desejo para as relações sexuais, marcada pela angústia e dificuldades nos relacionamento interpessoal”.

Desastrosamente apelidada pela mídia americana de “viagra feminino”, a flibanserina em nada se assemelha aos medicamentos utilizados pelos homens com disfunção erétil. Os efeitos dos “viagra-similes” se iniciam quarenta e cinco minutos após a tomada. A flibanserina precisa ser ingerida diariamente para que seu efeito seja notado após quatro semanas (!). A ação dessa droga, nos neurotransmissores cerebrais, é cumulativa e não instantânea, sendo máxima após oito semanas de uso contínuo.

Os conselheiros do FDA manifestaram preocupações quanto à segurança da droga. Todos aqueles que votaram a favor da recomendação alertaram o fabricante sobre a necessidade de  desenvolver um programa para reduzir os riscos da droga, que incluem queda súbita da pressão arterial (com desmaios), náuseas, insônia, tontura, cansaço, boca seca e ansiedade. A interação com o álcool e outros medicamentos (pílulas anticoncepcionais) precisam ser melhor estudadas.

A eficácia dessa substância também é questionável. O aumento no número de relações sexuais satisfatórias mensais é pequeno, quando comparado ao uso do placebo (4.4 contra 3.7 respectivamente). Acredita-se que apenas uma entre dez mulheres na pré-menopausa (portanto, com idades que variam entre quarenta e cinquenta anos) será beneficiada por esse medicamento.

Algumas entidades americanas, como a National Women’s Health Network, são absolutamente contra a aprovação (prematura) da flibanserina para remediar o desejo sexual hipoativo em mulheres na pré-menopausa.

Uma nova reunião dos conselheiros do FDA está marcada para o próximo dia 18 de agosto, na qual será decidida a aprovação – ou não – da comercialização dessa substância nos Estados Unidos.

A responsabilidade do Drug Safety and Risk Management (DSaRM) Advisory Committee do FDA, naquela data, será muito grande.

A aprovação da flibansterida - se acontecer - terá enormes repercussões na mídia global, forçando os médicos – ditos modernos, antenados e atualizados – a prescrever uma droga sobre a qual sabem muito pouco. Uma legião de mulheres, com menos de trinta e cinco anos de idade e iludidas pelo apelido de “viagra feminino”, pedirão uma receita aos seus ginecologistas, acreditando que a falta de desejo sexual (tesão) que sentem, poderá ser curada instantaneamente com um simples comprimido.

Mulheres na pré-menopausa serão manipuladas pela indústria farmacêutica (via multimídia – jornais, revistas, TV, tablets, PCs, celulares, etc.) a consumir “Addyi” (nome proposto pelo laboratório “Sprout Pharmaceuticals” para venda da flibansterida nos Estados Unidos). Elas só despertarão para a realidade depois de muitos meses comprando (a preços altos) caixas e mais caixas de Addyi, sem obterem o resultado esperado; esquecendo-se de que os sentimentos e a atração sexual, entre homens e mulheres, não podem ser fabricados artificialmente.


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