No último dia quatro de junho de 2015, os conselheiros do
Food and Drug Administration (FDA) – órgão governamental dos Estados Unidos da
América, responsável pelo controle dos alimentos e medicamentos -, recomendaram
– com ressalvas, por 18 votos a favor e 6 contra – a aprovação da substância
flibanserina, supostamente indicada para o tratamento do distúrbio do
desejo sexual hipoativo (sigla em inglês, SHDD), em mulheres na pré-menopausa. O distúrbio do desejo sexual
hipoativo é definido como “deficiência ou ausência – persistente ou recorrente
- de fantasias sexuais e falta de desejo para as relações sexuais, marcada pela
angústia e dificuldades nos relacionamento interpessoal”.
Desastrosamente apelidada pela mídia americana de “viagra
feminino”, a flibanserina em nada se assemelha aos medicamentos utilizados
pelos homens com disfunção erétil. Os efeitos dos “viagra-similes” se iniciam
quarenta e cinco minutos após a tomada. A flibanserina precisa ser ingerida
diariamente para que seu efeito seja notado após quatro semanas (!). A ação
dessa droga, nos neurotransmissores cerebrais, é cumulativa e não instantânea,
sendo máxima após oito semanas de uso contínuo.
Os conselheiros do FDA manifestaram preocupações quanto à
segurança da droga. Todos aqueles que votaram a favor da recomendação alertaram
o fabricante sobre a necessidade de desenvolver
um programa para reduzir os riscos da droga, que incluem queda súbita da
pressão arterial (com desmaios), náuseas, insônia, tontura, cansaço, boca seca
e ansiedade. A interação com o álcool e outros medicamentos (pílulas
anticoncepcionais) precisam ser melhor estudadas.
A eficácia dessa substância também é questionável. O aumento
no número de relações sexuais satisfatórias mensais é pequeno, quando comparado
ao uso do placebo (4.4 contra 3.7 respectivamente). Acredita-se que apenas uma
entre dez mulheres na pré-menopausa (portanto, com idades que variam entre
quarenta e cinquenta anos) será beneficiada por esse medicamento.
Algumas entidades americanas, como a National
Women’s Health Network, são absolutamente contra a aprovação (prematura) da
flibanserina para remediar o desejo sexual hipoativo em mulheres na
pré-menopausa.
Uma nova reunião dos conselheiros do FDA está marcada para o
próximo dia 18 de agosto, na qual será decidida a aprovação – ou não – da
comercialização dessa substância nos Estados Unidos.
A responsabilidade do Drug
Safety and Risk Management (DSaRM) Advisory Committee do FDA, naquela data, será
muito grande.
A aprovação da flibansterida - se acontecer - terá enormes
repercussões na mídia global, forçando os médicos – ditos modernos, antenados e
atualizados – a prescrever uma droga sobre a qual sabem muito pouco. Uma legião
de mulheres, com menos de trinta e cinco anos de idade e iludidas pelo apelido
de “viagra feminino”, pedirão uma receita aos seus ginecologistas, acreditando
que a falta de desejo sexual (tesão) que sentem, poderá ser curada
instantaneamente com um simples comprimido.
Mulheres na pré-menopausa serão manipuladas pela indústria
farmacêutica (via multimídia – jornais, revistas, TV, tablets, PCs, celulares,
etc.) a consumir “Addyi” (nome proposto pelo laboratório “Sprout
Pharmaceuticals” para venda da flibansterida nos Estados Unidos). Elas só
despertarão para a realidade depois de muitos meses comprando (a preços altos)
caixas e mais caixas de Addyi, sem obterem o resultado esperado; esquecendo-se
de que os sentimentos e a atração sexual, entre homens e mulheres, não podem
ser fabricados artificialmente.